Viver a vida do clube do coração diariamente é um desejo de todo o torcedor. Edson Prates realizou esse sonho. Ele começou cedo a trabalhar no Inter. Havia uma sede do clube, na Rua Uruguai, no Centro de Porto Alegre, onde Edson fazia carteira para a Jovem Guarda. Com cerca de 19 anos de idade, trabalhou sem carteira assinada, pelo valor da tarefa. Norma Prates, esposa de Edson, lembra que se formavam filas homéricas para receber o documento que identificava os jovens colorados.
Do Centro da cidade, foi transferido para o Estádio Eucaliptos, em 11/11/69, no Departamento de Futebol, já com a carteira de trabalho assinada. Junto com ele, Duran e Dércio Barros, que foi jogador de basquete do Inter.
A mudança seguinte foi definitiva: o departamento veio para o estádio Gigante da Beira Rio, na altura do portão 8. Mesmo trocando de lugar algumas vezes, o setor cuidava das categorias de base e do profissional. Nesse período, a concentração dos jogadores ainda era no estádio.
COLORADO DE CORPO E ALMA
“A vida dele era o Sport Club Internacional”, descreve Norma, que revela a figura de funcionário que nunca tirou férias, nem acompanhou o nascimento de nenhum dos cinco filhos.
“Ele cantava minhas irmãs para ficar no hospital comigo”, explica a esposa.
“Não havia limites para a dedicação do Edson ao Internacional. Sem horário de almoço, ele trabalhava mais do que oito horas diárias. Me assustava porque ele trabalhava no andar de baixo e costumava ficar sozinho no estádio”, declarou Norma Prates.
“MEIO VERANEIO”
Certa vez, o então presidente Zachia perguntou: quando vocês vão tirar férias?
Em ato contínuo, Záchia entregou a ela um envelope com a chave de uma casa na praia de Tramandaí, com dinheiro para a despesa.
Orgulhoso, Záchia dizia: “O Edson é um funcionário que é o Internacional”.
Em pleno carnaval, ele ficou alguns dias e voltou para Porto Alegre, sem retornar para o litoral. O período de férias de Edson coincidia com as férias dos jogadores. Os afazeres nessa ocasião eram múltiplos: contratação e saída de jogadores, renovação de contrato.
INTER EM TEMPO INTEGRAL
Norma Partes revela sua maior reclamação: Edson nunca tinha tempo para nós, pois sempre estava ligado ao futebol. “Nem passeava com a gente”, lamenta.
Para Norma Prates, o Inter desconsiderou com o funcionário de 51 anos de casa, que entregava a vida para o Inter.
“Não me chamaram para fazer um fechamento condizente com a importância dele para o clube”, protesta a esposa de Edson Prates, indicando que ele foi contaminado pela Covid-19 nas dependências do clube.
“Edson foi contaminado quando o Inter voltou a jogar. Ele inclusive participou da feitura do contrato do meia atacante Tyson”, informou a esposa.
“UMA AMANTE ERA MELHOR”
Certa vez feita, Norma disse ao presidente Záchia: “Eu preferia que o Edson tivesse uma amante, que vai envelhecendo, fica chata e exigente, como a mulher. Daí eles largam ela”.
O presidente ria, pois sabia que o Inter ele jamais largaria. Quantas vezes ele comprou artigos para o clube com o próprio dinheiro, sem cobrar depois do Inter.
Como bom Colorado, Edson Prates não admitia a hipótese de um de seus filhos torcer pelo Grêmio. Não aceitava.
SINDICALISTA DESTACADO
Paralelamente à vida profissional de meio século ao S. C. Internacional, Edson Prates ajudou a fundar o Sindicato dos Empregados em Clubes e Federações Esportivas do Rio Grande do Sul (SECEFERGS) e a Federação Estadual dos Trabalhadores em Cultura Física (FETECFERGS), que tem como filiados o Sindicato dos Árbitros de Futebol do RS, o Sindicato dos Atletas do RS e o Sindicato dos Treinadores do RS.
Prates também participou ativamente da fundação da centrais sindicais Social Democracia Sindical (SDS) e União Geral dos Trabalhadores (UGT). Quando de seu falecimento, Edson Partes presidia a FETECFERGS e era vice-presidente do Secefergs e presidente do Conselho Fiscal da UGT-RS.
Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)